domingo, 21 de março de 2010

A quinta.

[Instrusa mode on 2] Tinha a intenção de escrever outra coisa quando comecei o post, mas a coisa acabou saindo daquele jeito que vocês leram. Vou para o segundo round ver se consigo fazer o que estava pensando da primeira vez.

Você já deve ter ouvido que filho caçula só tem regalia na família e aquela coisa toda. Isso pode até acontecer quando são duas, três crianças, talvez. Mas digo que ser a mais nova de cinco talebãs é, no mínimo, uma experiência de superação. Acho que vale até uma observação no curriculo.

Obviamente que não tinha voz para nada. Não tinha direito a voto, a veto ou a pronunciamento. Gentes, imaginem uma casa com cinco mulheres gritando (entre elas minha mãe). Quando, nesse circo de estrógeno, alguém olharia para aquela menina magrela, cabeçudinha e com cabelo de tigela? Por isso que me sentia obrigada a me agarrar - literalmente, com braços e pernas - às irmãs e aos cunhados. Me pendurava na perna de um mais azarado e não havia cristo que me tirasse dali. Nessa hora, pelo menos, todo mundo olhava para mim. A voz esganiçada, de taquara rachada, também ajudou a marcar presença. Habilidades desenvolvidas em tempo de guerra.

Aprendi desde cedo o que era dividir. Um armário, duas cômodas, duas beliches e uma cama. Esse era o quarto das meninas. Cada uma tinha uma gaveta, um espaço para sapatos e material escolar. Tudo milimetricamente calculado. Eu, a mais nova, sempre ficava com menor. Roupas menores, menos coisas para guardar. Nem ligava.

Sobremesa? Tudo dividido. Não havia nada na casa que não fosse repartido, pra ninguem ficar sem. Lembro da Ana, sempre a encarregada dessas coisas, separando a caixa de bombom em cinco fileirinhas. Os primeiros da fila eram os chocolates mais gostosos. O último era sempre aquele que, em casas com menos crianças, ficava na caixa até mofar. Mas no número 36 da Rua Urupema nenhum doce era desperdiçado. Mas não era mesmo. Era uma pindaíba pra lá de divertida.

E ir para a praia com essa família Buscapé? Na Brasilia? O carro sempre quebrava na estrada, era só pegar a serra para isso acontecer. Mas o papis era precavido: a solução era jogar um pouco de Seba Bálsamo em alguma parte do motor que não sei até hoje. Isso mesmo, minha gente: Seda Bálsamo, o xampú. Convenhamos que, se ele conseguia limpar o cabelo corte selvagem que a Guiga e a Ana tinham nos idos dos anos 80, consertar motor era o de menos! E a Alba, com aquele cabelo liso maravilhoso, não conseguia se conformar que o modelo permanente não vingava nela. Bons tempos.

Eu e a Áurea nos estranhavamos. Havia roubado o trono de filha mais nova dela. Foi me perdoar pelo mal anos depois. Acho que até já dirigia nessa época...

E quando chegou a época que achava que todos da minha família iriam morrer se saíssem de casa sem mim? Minha mãe ia trabalhar, minhas irmãs para a escola, meu pai ia para a oficina... e eu preocupada, chorando, não me conformando com a vida sem a família. Lembro até hoje um dia que a Guiga chegou em casa e eu fui correndo para recebê-la no portão:  "Ai, Guiga, ainda bem que você não morreu!". Já era neurótica na tenra infância.

E o tempo foi passando. Hoje, tenho poder de pronunciamento na familia - e isso, sem precisar me agarrar às pernas de ninguém. Mas voto e veto, jamais. Isso cabe à Elite das Três (#piadainterna) e não ouso derrubar o equilíbrio divino do universo. Se já deu tudo certo com a deliberação delas, para que querer fazer graça?

Hoje, todas as gavetas do quarto são minhas. Dá um vazio às vezes. Mas quando chega a tropa toda pra almoçar no domingo, com todos os maridos e filhos, vejo que não tem motivo para sentir isso. Está todo mundo lá.

4 comentários:

Alba disse...

hahahahahahahahahaha!!! Agarrava nã perna e não largava por nada nesse mundo... Posso falar uma coisa... Tô bem de colaboradoras!! Só no meio da nata... Jornalistas formadas e eu no meio! Orgulho define!

Tata disse...

Ainda existe esse seda? nunca ouvi falar jogar shampoo no carro a não ser qdo vai lavar...
Se eu jogar shampoo no motor do carro do Thiago, meu irmão mais velho, ele vai me matar?!?
hauhauhaua

Ana disse...

O nome correto desse blog é "hora do chororô".. É difícil passar um post sem uma lágrima!!

Pâmela Pferso disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

ADOREI! Me lembro da minha infância, mas ao contrário eu era a mais velha, por todos os motivos tinha que me conformar com o pior!!! ohohohoh